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domingo, 12 de maio de 2013

Vou ver o papa

Cerca de 500 voluntários e outras dezenas de participantes se preparam para sair de Brasília para o Rio de Janeiro, rumo à Jornada Mundial da Juventude, em julho. Entenda o que motiva essas pessoas e como estão os preparativos

Na manhã de um sábado chuvoso, mais de 100 jovens se reuniram na Catedral Metropolitana de Brasília, atendendo a um convite de Encontro Brasília feito dois dias antes pela internet. Antes das 10h, grupos de todo o Distrito Federal começaram a chegar de carro, de ônibus e de metrô para participar da reportagem. Enrolados em bandeiras do Brasil, vestidos com camisetas religiosas, terço em mãos e crucifixo no peito, eles queriam mostrar a alegria por terem presença confirmada na próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece no fim de julho, no Rio de Janeiro.

Mesmo diante da debandada de fiéis nos últimos anos e das dificuldades do catolicismo em continuar encantando especialmente a juventude, ainda impressiona o poder de mobilização protagonizado pela Igreja. A JMJ é uma prova dessa persistente força espiritual. Em 2011, quando o evento parou a cidade de Madri, na Espanha, mais de 2 milhões de moças e rapazes se espremeram em um aeródromo para participar da vigília com o então papa Bento XVI. As imagens aéreas do local ganharam o mundo e chamaram a atenção por contrastar com o discurso de que a Igreja perdeu espaço entre os jovens.

Na edição deste ano, a multidão e a euforia dos católicos devem ser ainda maiores. A JMJ 2013 marcará a primeira grande viagem internacional do papa Francisco, o argentino que assumiu a Igreja após um conclave histórico e desde então tem conquistado o carinho de fiéis e não fiéis pelo jeito simples de governar a instituição. A eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio impulsionou as inscrições para a jornada, e pelo menos 2,5 milhões de pessoas são aguardadas pela organização do evento. Internamente, a Igreja já trabalha com a possibilidade de esse total chegar a 4 milhões, com as confirmações de última hora.
Jovens de quase 200 nacionalidades estão entre os inscritos, incluindo peregrinos do principado de Mônaco e de Dubai. A primeira JMJ no Brasil terá a maior diversidade de países com representantes. De Brasília, embarcarão cerca de 500 voluntários, além dos participantes gerais, cuja conta não está fechada. Nas grandes empresas de turismo da cidade, não há mais ônibus executivos disponíveis para o período do evento. “E, ainda assim, todo dia liga gente pedindo orçamento. Nunca vi nada parecido”, conta Aline Neves, funcionária de uma das agências que aproveita a demanda aquecida para dobrar o preço do aluguel do veículo.
A programação oficial da JMJ inclui oração, pregação, shows com bandas católicas e os esperados momentos com o papa, como a via-sacra e a missa de encerramento. As principais atividades ocorrerão em palcos montados na praia de Copacabana, na zona Sul da capital carioca, e em fazendas particulares na região de Guaratiba, na zona Oeste. “Os jovens da jornada serão turistas diferentes de tudo o que o Rio de Janeiro já viu”, comenta o padre João Firmino, coordenador do Setor Juventude da Arquidiocese de Brasília, animado com o crescente interesse pelo evento nas paróquias da capital do país.

Depois de acompanharem a JMJ em Madri, dois anos atrás, autoridades brasileiras – entre elas políticos e integrantes da cúpula da Igreja – perceberam a dimensão do evento. “Nunca vi os bispos tão animados”, diz o assessor da Comissão para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Carlos Sávio Ribeiro. Ele conta que mais de 3 milhões de pessoas já participaram do Bote Fé, evento iniciado em setembro de 2011, em que uma cruz e um quadro de Nossa Senhora têm percorrido milhares de municípios brasileiros como forma de promover o maior evento católico do mundo.

A expectativa só aumenta. As amigas Viviane Rodrigues e Steli Ferreira não veem a hora de pisar no Rio de Janeiro para, pela primeira vez, acompanhar de perto uma Jornada Mundial da Juventude. “Fico vendo e revendo as fotos de Madri, e a ansiedade cresce ainda mais. Acho que vou chorar, deve ser muita emoção”, prevê Viviane. Com folga garantida no trabalho para viajar para a capital fluminense em julho, Steli brinca que está mais pronta para o evento do que o próprio papa. “Falta só chegar o dia!”, sublinha a jovem, certa de que, apesar da presença de jovens do mundo inteiro, todos serão capazes de se entender. “Estaremos lá por um mesmo ideal, que é Cristo”, explica.
Os namorados Luísa Serra e Henrique Ferreira curtirão juntos a primeira jornada no Brasil. Eles e mais três casais de amigos brasilienses alugaram um apartamento em Copacabana, para facilitar o deslocamento na cidade. Estreantes em jornadas, esperam que a experiência fortaleça ainda mais o relacionamento. “Tenho muita certeza de que foi Deus quem nos uniu e nos mantém unidos”, afirma ela, antes de contar que o namoro precisou ser vivido a distância durante dois anos. “Participar da JMJ é importante para quem quer formar uma família cristã”, completa Henrique. “Também vai ser importante para o papa sentir o apoio da juventude e perceber que não está sozinho nesta luta pela fé católica”, emenda o jovem.
A estudante Thaina Caldas Ferreira garantiu uma das 92 vagas nos dois ônibus que sairão da paróquia São Miguel Arcanjo, no Recantos das Emas, rumo ao Rio de Janeiro, em julho. Concurseira, ela vai dar uma pausa nos estudos para não ficar de fora da JMJ 2013. “A jornada é um encontro não só com o papa, mas com jovens do mundo inteiro e, principalmente, com Deus”, define Thaina, ansiosa por ver tanta gente reunida pelo mesmo objetivo. “Quem fala que a Igreja está morrendo com certeza não vive mais a Igreja. Quem participa das atividades sabe que esse discurso não condiz com a realidade”, defende ela, que cresceu frequentando a igreja.

A chefe dos voluntários brasilienses na JMJ 2013, Bianca Damásio Nonato, está entre as mais animadas, mesmo sem saber exatamente como vai ajudar no evento. A organização geral ainda não detalhou a função dos jovens da capital do país, que terão de chegar uma semana antes para receber as orientações. Poderão, por exemplo, ter de ajudar estrangeiros no aeroporto ou formar cordões de isolamento. “Não sabemos. Mas nos sentimos tão bem perto de Deus que é natural fazermos sacrifícios para que outras pessoas tenham essa mesma oportunidade”, comenta Bianca, que diz ter vivido momentos inesquecíveis em Madri, durante a última jornada. 


Já o cantor católico Jonny, nascido e criado em Taguatinga, não perde tempo. Assim que o colégio cardinalício elegeu o cardeal Jorge Mario Bergoglio no conclave, ele começou a compor uma música de boas-vindas para o novo papa na JMJ 2013. “Seja bem-vindo, Francisco! O Brasil te acolhe com amor!”, diz trecho da canção que ele espera cantar em um dos 27 palcos espalhados pelo Rio de Janeiro. Ele já recebeu o convite informal, mas a programação oficial ainda não foi fechada. “Não há como desassociar a juventude da música”, diz ele, destacando a importância dos shows durante a jornada. “A JMJ ganhará cara nova no Brasil. Em termos de expressão musical, faremos a diferença”, acredita. Para se ter ideia da grandeza, cerca de 500 bandas nacionais e internacionais participaram da triagem para se apresentar no Rio.

PREPARAÇÃO
Brasília será uma das cidades brasileiras a sediar a pré-jornada, este ano, também chamada de Semana Missionária. O período é marcado por atividades que antecedem a JMJ 2013 e preparam os jovens para o “espírito” do evento. A iniciativa começou na edição de Paris, em 1997. A Arquidiocese de Brasília formou uma comissão para cuidar especificamente dessas ações. São esperados cerca de 20 mil peregrinos na capital do país entre os dias 17 e 21 de julho. Muitos ficarão hospedados em casas de família.

NO CONTEXTO DA JORNADA
Brasília e Belo Horizonte estiveram na disputa para sediar a JMJ 2013. Pesou a favor do Rio de Janeiro o fato de a cidade ser palco de grandes eventos esportivos internacionais nos próximos anos. O dossiê entregue ao Vaticano com a proposta de jornada no Brasil explorou o “bom momento” vivido pela capital fluminense e tinha a assinatura de autoridades e celebridades.

A América Latina é considerada hoje a força do catolicismo no mundo. Assim como a escolha de um papa latino-americano no último conclave, uma jornada no Rio de Janeiro também é percebida como sinal de que a cúpula da Igreja reconhece a importância do continente para a propagação da fé. Embora o número de católicos tenha diminuído consideravelmente nos últimos anos, o Brasil segue como referência de evangelização eficaz.

Um dos maiores desafios a serem enfrentados pela organização da JMJ 2013 diz respeito à mobilidade dos peregrinos. Temendo que o sistema de transporte público não consiga garantir o deslocamento dos jovens, já começou a ser levado em conta o plano de espalhar telões pela cidade, para que as atividades sejam acompanhadas mesmo a distância.

Outro problema, este ainda sem solução, é a baixa adesão de famílias para abrigar os fiéis em casa. Escolas e demais instituições religiosas disponíveis não são suficientes para acomodar o número esperado de inscritos. O governo do Rio de Janeiro está encarando a jornada como o principal teste para os Jogos Olímpicos de 2016.

Números da Jornada no Brasil
De 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro:
- 27 palcos
- 193 países enviarão representantes
- 900 bares e restaurantes estão credenciados no “kit peregrino”
- 85 mil voluntários inscritos
- 338 músicas inscritas
- 102 grupos de teatro e dança inscritos
- 38 exposições inscritas

Três perguntas para Dom Eduardo Pinheiro, Bispo auxiliar de Campo Grande (MS), presidente da Comissão para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):

Qual o impacto da renúncia do papa Bento XVI e da eleição de Francisco na JMJ 2013?
Dom Eduardo: Acabou servindo de propaganda para a jornada, aumentando o número de participantes e a curiosidade das pessoas. O encontro do povo com o novo pastor da Igreja virou atrativo. Tenho certeza de que muitos indecisos agora vão querer ir ao Rio de Janeiro. Será o primeiro grande evento internacional do papa. Sabemos que teremos muito mais trabalho e a responsabilidade será maior. O mundo inteiro estará olhando para nós.

Por que tantos jovens ainda se sentem atraídos pela Igreja?
Dom Eduardo: Quando se coloca o jovem no centro, o resultado é imediato. João Paulo II teve uma atitude profética ao criar a Jornada Mundial da Juventude, porque a cultura juvenil valoriza grandes encontros. Estar junto da multidão agrada ao jovem, que ainda se sente atraído pela radicalidade de valores. Com a jornada, a Igreja desperta o protagonismo juvenil e mostra à sociedade que o jovem tem valor, precisa ser acolhido, respeitado.

Qual será o diferencial da jornada no Brasil?
Dom Eduardo: A nossa alegria. O jovem católico brasileiro se caracteriza pela espontaneidade na liturgia, nos cânticos, por se comunicar com o sagrado de maneira muito aberta. Será uma boa oportunidade para que a juventude do resto do mundo perceba que é possível ser jovem e, ao mesmo tempo, ser muito religioso e comprometido com as causas da Igreja.
FONTE: (http://sites.correioweb.com.br/)

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