Pintura de um artista anônimo do século XII. Permaneceu, por muito tempo, na cidade de Vladimir; por este motivo leva o nome de “A Virgem de Vladimir”, ou “A Virgem da Ternura de Vladimir”.
A contemplação desse ícone nos conduz a uma experiência espiritual profunda. Leva-nos a seguir um movimento que parte dos olhos da Virgem em direção às suas mãos. Passa das mãos de Maria para a criança e da criança novamente para os olhos de Maria.
Os olhos da Virgem
Seus olhos olham para dentro e para fora ao mesmo tempo. Olham para dentro, para o coração de Deus e para fora, para o coração do mundo, revelando, assim, a unidade inescrutável entre o Criador e a criação. Seus olhos contemplam os espaços infinitos do coração, onde alegria e tristeza não são mais emoções contrastantes, mas transcendidas na unidade espiritual.
O olhar de Maria é acentuado pelas estrelas que brilham em sua testa e em seus ombros. Elas fala da presença divina que permeia seu ser. Maria está completamente aberta ao Espírito, que torna seu ser mais interiorizado e completamente atento ao poder criador de Deus. Orando à Virgem de Vladimir, constamos que ela nos vê com os mesmos olhos com que vê Jesus.
As mãos da Virgem
É impossível rezar durante muito tempo contemplando o ícone sem sentir-nos atraídos por suas mãos. Uma das mãos sustenta a criança, enquanto a outra permanece livre, num gesto aberto de convite.
Maria é a mãe de Jesus. Todo o seu ser é Jesus. Sua mão não ensina, nem explica e nem pede. Simplesmente oferece o seu filho como o Salvador do mundo a todos os que estão abertos a ver Jesus com os olhos da fé.
A mão de Maria ocupa o coração do ícone. É indescritivelmente bela. Sua centralidade resume o ícone inteiro. Transforma a imagem expressão do cântico de Maria: “Minha alma exalta o Senhor e meu espírito exulta de júbilo em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46). Enquanto nossa atenção vai dos olhos para as mãos de Maria, lentamente, percebemos sua profunda paciência. Ela é a mãe paciente que espera a hora do nosso “sim”. Sua mão está sempre ali, no âmago do mistério da Encarnação, convidando-nos a ir a Jesus.
O filho da Virgem
Ao olhar longamente o ícone percebe-se o significado de tudo o que o rodeia. É fácil notar que o filho não é um bebê. É um sábio vestido com roupas de adulto. O rosto iluminado e a túnica dourada indicam que o sábio é verdadeiramente o Verbo de Deus, cheio de majestade e esplendor. É o verbo feito carne, Senhor de todos os tempos, fonte de toda a sabedoria, princípio e fim da criação.Tudo fica claro dentro e ao redor do filho. No filho não há escuridão.
Contemplando o rosto da criança percebemos uma luz esplêndida que cai no lado direito do ícone, tocando delicadamente o nariz da Virgem e iluminando o rosto do filho. Mas a luz vem também de dentro. É um brilho interior que se projeta para fora e aprofunda a intimidade entre mãe e filho, revelada no abraço carregado de ternura. A criança está se dando completamente à Virgem. O braço envolve afetuosamente mãe e filho. Os olhos da criança estão fixos nos olhos dela. A atenção é plena. Sua boca está próxima à da mãe, oferecendo-lhe seu sopro divino. Jesus oferece sua sabedoria divina à Mãe da humanidade.
Os olhos da Virgem chamam nossa atenção para suas mãos; suas mãos chamam nossa atenção para a criança; e a criança nos reconduz a ela, que fala ao Filho em nome de toda a humanidade.
A Virgem do Terceiro Milênio
O ícone “Virgem do Terceiro Milênio” de Kiko Argüello foi baseado na Virgem de Vladimir.
FONTE: Do livro: "Contempla a Face do Senhor", Editora Loyola.
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