Bento XVI anunciou a renúncia pessoalmente, falando em
latim, durante um encontro de cardeais no Vaticano.
O surpreendente discurso foi feito entre as 11h30 e 11h40
locais (8h30 e 8h40 do horário brasileiro
de verão), segundo o Vaticano. A Santa Sé anunciou que o papado, exercido pelo teólogo
alemão desde 2005, vai ficar vago até que o sucessor seja escolhido, o que se
espera que ocorra "o mais rápido possível" e até a Páscoa, segundo o
porta-voz Federico Lombardi.
Em comunicado, Bento XVI, que tem 85 anos, afirmou que vai
deixar a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana devido à idade
avançada, por "não ter mais forças" para exercer as obrigações do
cargo. O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motívo da
renúncia.
O pontífice afirmou que está "totalmente
consciente" da gravidade de seu gesto. "Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse
ato, com total liberdade declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma,
sucessor de São Pedro", disse Joseph Ratzinger.
Na véspera, Bento XVI escreveu em sua conta no Twitter:
"Devemos confiar no maravilhoso poder da misericórdia de Deus. Somos todos
pecadores, mas Sua graça nos transforma e renova". Sucessor de João Paulo II, Bento XVI havia assumido o papado
em 19 de abril de 2005, com 78 anos.
O Vaticano afirmou que a renúncia vai se formalizar às 20h
locais de 28 de fevereiro (17h do horário brasileiro de verão), uma
quinta-feira. Até lá, o Papa estará "totalmente encarregado" dos
assuntos da igreja e irá cumprir os compromissos já agendados, segundo a Santa
Sé. O novo Papa será escolhido pelo conclave de cardeais, como
de costume.
DECISÃO SURPREENDENTE
O porta-voz do Vaticano disse que a decisão do Papa
surpreendeu a todos do seu círculo mais próximo. Lombardi afirmou que, após a renúncia, Bento XVI vai à
residência papal de verão, em Castel Gandolfo, próximo a Roma, e depois irá
morar em um mosteiro dentro do Vaticano, que vai ser reformado para recebê-lo.
Lombardi também disse que Bento XVI não vai participar do
conclave. O porta-voz afirmou que Bento XVI mostrou "grande
coragem" no seu gesto e descartou que uma depressão tenha sido o motivo da
renúncia. Lombardi também descartou que Bento XVI vá interferir no
papado de seu sucessor.
Nos últimos meses, o Papa parecia cada vez mais frágil em
suas aparições públicas, muitas vezes precisando de ajuda para caminhar. Em seu livro de entrevistas publicado em 2010, Bento XVI já
havia falado sobre a possibilidade de renunciar caso não tivesse condições de
continuar no cargo. Georg Ratzinger, irmão do Papa, afirmou à France Presse que
o pontífice já planejava a renúncia havia alguns meses.
CRISES NO PONTIFICADO
Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, foi eleito para suceder João
Paulo II, um dos pontífices mais populares da história. Ele foi escolhido em 19 de abril de 2005, quando tinha 78
anos, 20 anos mais idoso do que seu predecessor quando foi eleito.
O papado do conservador alemão foi marcado por algumas
crises, com várias denúncias de abuso sexual de crianças e adolescentes e
acobertamento por parte do clero católico em vários países, que abalou a
igreja, por um discurso que desagradou aos muçulmanos e também por um escândalo
envolvendo o vazamento de documentos privados por intermédio de seu mordomo
pessoal, o chamado "VatiLeaks", que revelou os bastidores da luta
interna pelo poder na Santa Sé.
Os escândalos de pedofilia o levaram, em várias ocasiões, a
expressar um pedido de perdão público às vítimas e parentes e a reconhecer,
durante sua viagem a Portugal, em maio de 2010, que a maior perseguição que
sofria a Igreja não vinha de seus "inimigos externos" e sim de seus
"próprios pecados". Na ocasião, ele prometeu que os culpados
responderiam "ante Deus e a justiça ordinária" pelos crimes.
Como Papa, Bento XVI tomou medidas que confirmaram o seu
perfil conservador, como autorizar a missa em latim, em setembro de 2007.
Em janeiro de 2009, ele suspendeu a excomunhão de quatro
bispos integristas do movimento ultraconservador de Marcel Lefebvre, entre eles
o britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto nazista.
Em duas ocasiões, Bento XVI visitou a América Latina. A primeira em maio de 2007, para assistir à assembleia geral
da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), celebrada na
cidade de Aparecida, São Paulo. Nessa ocasião, ele negou que a religião católica tivesse
sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu duras críticas de
religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos
conquistadores da América em nome da fé.Ele também canonizou Frei Galvão, primeiro santo brasileiro.
Em março de 2012, ele visitou o México e Cuba, onde defendeu
a liberdade e os direitos da Igreja e recordou a primeira e histórica visita de
João Paulo II à ilha comunista em 1998.
Nas questões morais, ele se manteve inflexível como seu
antecessor. Em nome da defesa da vida, Bento XVI manteve a condenação do
aborto, da manipulação genética, da eutanásia e do casamento gay. Segundo ele, o cristianismo só é crível se for exigente.
Bento XVI prefere uma Igreja minoritária e convencida a uma grande comunidade
de fé vaga.
LIVROS E ENCÍCLICAS
Entre 2007 e 2012, o papa teólogo publicou três livros sobre
a vida de Jesus, a partir de dados fundamentais oferecidos nos Evangelhos e em
outros escritos do Novo Testamento. Neles, reflete sobre a figura de Jesus Cristo na qualidade
de teólogo, não como sumo pontífice da Igreja Católica, um imponente exercício
intelectual, que, além disso, foi um êxito internacional de vendas.
Bento XVI escreveu três encíclicas: "Deus caritas
est" (Deus é caridade, 2005), sobre a caridade e o amor divino, "Spe
salvi" (Salvos pela esperança, 2007), na qual faz uma autocrítica ao
cristianismo moderno e analisa principalmente o pessimismo e o materialismo que
sacode os europeus, e "Caritas in veritate" (Na caridade e na
verdade, 2009).
O Papa era aguardado no Rio de Janeiro em julho deste ano,
onde iria participar da Jornada Mundial da Juventude, que vai reunir jovens
católicos do mundo inteiro. A Arquidiocese do Rio afirmou que a renúncia do Papa não vai
mudar a programação do evento.
O Vaticano vai fazer uma cerimônia de despedida para Bento
XVI antes do término de seu pontificado, à qual devem comparecer fiéis de
todo o mundo e autoridades "de muitos países", disse o cardeal
decano, Angelo Sodano.
FONTE: (http://g1.globo.com/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário