Ao contrário dos grandes eventos, a maioria desse público não ficará em hotéis ou em navios. A hospedagem é oferecida pelos anfitriões, que no caso carioca, será articulada pela Arquidiocese. Mas para receber tanta gente será necessária a ajuda de moradores da cidade, instituições, escolas, e clubes.
"O objetivo é conseguir alojamento para pelo menos um milhão de pessoas", diz o bispo auxiliar do Rio, dom Paulo Cezar Costa. "Haverá também aqueles quer vão preferir ficar em hotéis", afirma o bispo. No Copacabana Palace, por exemplo, 80 dos 243 quartos já estão reservados entre os dias 23 e 28 de julho, data em que será realizada a Jornada.
Além do Rio, a campanha também vai atingir a região metropolitana. Vários dos peregrinos ficarão hospedados em cidades adjacentes, como Niterói, Duque de Caxias, Nova Iguaçu ou Itaguaí. São esperados também cerca de 20 mil ônibus, que não entrarão na capital fluminense. Será necessário conseguir espaço para estacionar essa frota. "Muitos deles virão em duplas porque as distâncias são longas. Só de Lima são 1.200 ônibus", diz dom Paulo.
Assim como os comitês organizadores da Copa e da Olimpíada possuem suas empresas próprias, também foi montada uma instituição sem fins lucrativos para gerenciar o evento, o Comitê Organizador. Ao todo são 108 funcionários de diversos países. "Muitos já trabalharam em jornadas anteriores", afirma o bispo.
Dom Paulo conta também que esteve reunido com organizadores das edições passadas. "Fomos a Sidney, na Austrália, a Toronto, no Canadá, e a Colônia, na Alemanha. Buscamos as informações e agora desenvolvemos nosso projeto de acordo com as particularidades do Rio", diz ele, para depois avaliar que a Jornada será um teste para a capacidade de organização da cidade para os próximos eventos.
"Será um grande balão de ensaio, mas com uma vantagem: o público peregrino é menos exigente. O jovem católico também é mais ordeiro, alegre", afirma o bispo, que esteve em três jornadas.
Entre os dias 23 e 24, serão realizados eventos de catequeses em igrejas e escolas. No dia seguinte, quinta-feira, o papa chega e será recebido pela presidente Dilma Rousseff. Na sexta-feira, ele realiza sua primeira missa na Praia de Copacabana, junto com a representação da Via Sacra. No sábado, inicia uma vigília com os jovens. E no domingo, missa campal do encontro na mesma área. A previsão é que os 2,5 milhões de participantes se reúnam nesse dia.
A organização do evento recairá sobre os 50 mil voluntários esperados, que vão cuidar da logística de transporte, alimentação, organização e produção de eventos e o recebimento dos 5 mil jornalistas cadastrados.
Quem terá que treinar os voluntários será a Dream Factory, empresa contratada pela Arquidiocese para organizar a Jornada e que tem no currículo o Rock In Rio e o carnaval de rua carioca. A empresa terá um orçamento de R$ 430 milhões para organizar o evento. Desse montante, R$ 300 milhões serão pagos pelos peregrinos ao se inscreverem na Jornada, que tem taxa de inscrição que varia entre R$ 150 e R$ 600.
Já os R$ 130 milhões restantes são os custos de organização de produção do evento. Para isso, a Dream Factory busca patrocinadores, distribuídos em três categorias de apoio: a cota máster, que deve ser negociada a R$ 15 milhões; o patrocínio, por R$ 7 milhões, e o apoio, por R$ 2 milhões. "São preços de referência. Cada negociação é um valor", afirma Duda Azevedo, diretor-geral da empresa.
A cota pode ser paga em parte com serviços. O Banco Santander, por exemplo, montou o sistema de inscrição similar o que já tinha feito em Madri, no ano passado. O evento na capital espanhola contou com 2 milhões de fiéis. Além do Santander, Itaú e Bradesco estão entre os patrocinadores.
Os logotipos dos patrocinadores aparecerão em placas, faixas de indicação e torres de vídeo. Também será possível criar áreas de relacionamento dos clientes e de funcionários em locais do evento. "Os patrocinadores master serão recebidos pelo próprio papa. No início do ano, representantes das empresas vão a Roma encontrá-lo pessoalmente", afirma dom Paulo.
Os peregrinos participarão de eventos em 400 diferentes pontos do Rio de Janeiro, que verá ser armado 27 palcos para apresentações de teatro e bandas brasileiras.
Em Madri, a Jornada teve mais de cem patrocinadores, entre eles o banco Santander, a Coca-Cola, a Telefónica, a Ford e o El Corte Inglés. Por lá estiveram fiéis de 193 países. Dos 2 milhões de católicos participantes, 130 mil permaneceram na cidade depois do evento. A média de estadia por pessoa foi de seis dias, com um gasto diário de € 52. A estimativa é que a Jornada tenha gerado € 354,6 milhões para a economia madrilenha. Além disso, 89,6% dos estrangeiros levaram uma boa impressão de Madri e tiveram a intenção de voltar.
A Dream Factory vem fazendo propostas de patrocínio para montadoras, grandes empresas varejistas, companhias telefônicas, planos de assistência médica e redes hospitalares, seguradoras, empresas mineradoras e de óleo e gás. "Estamos prospectando principalmente no mercado do Rio e de São Paulo", diz Duda Azevedo. Também já está funcionando o licenciamento da marca JMJ (Jornada Mundial da Juventude) que já está sendo explorada em copos, camisetas, santinhos e estátuas do Cristo Redentor.
O evento terá ainda uma semana de pré-jornada, batizada de Semana Missionária. Os peregrinos vão a diferentes cidades do país para realizar trabalhos missionários. Ao todo são 159 dioceses envolvidas, 60% brasileiras, abrangendo cerca de 3.340 municípios do país. Volta Redonda, no Rio, por exemplo, receberá 10 mil franceses. Já Fortaleza receberá americanos.
FONTE: Adaptado da reportagem de Paola de Moura, publicada pelo jornal Valor em 19/11/2012.
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